Mulheres do Mundo. 2do Congresso Internacional, Sao Paulo, Brazil 

Deixo-vos a minha apresentação no painel Iniciativas Globais no 2º Congresso Mulheres de Mundo organizado pelo Instituto Vasselo Goldoni 22 Novembro 2022

O que te motiva a ser um agente de transformação social?

Muito obrigada, sinto-me especialmente honrada com este convite. Confesso que não falo português mas o amor e respeito pelo que faço obriga-me a fazer o esforço. Espero que não seja em vão e que você possa me entender

Meus parabéns por um evento que dá a oportunidade de trazer uma opinião e experiência estrangeira e que mostra uma mente global desde a sua concepção.

Fico muito grata por estar num evento com este nível de abertura, de mudança de foco sem perder valores, de falar de género sem ideologias e de mudança de mentalidade sem perder tradições…..e acima de tudo liberdade individual para decidir sem imposições.

Agradeço que me considerem um agente de transformação social mas sinto-me na obrigação de deixar bem claro, um agente de transformação social não é necessariamente um líder, nem um chefe de uma organização, mas sim um cidadão comprometido. Nunca a ação individual teve tanto poder, nem tanto suporte tecnológico para realizá-la.

Por isso, quando me perguntarem o que me motiva, direi: um dia de chuva, um dia de sol, a noite, o dia, um dia triste ou um dia feliz como hoje para estar aqui com todos vocês. Se tem algo que não quero usar para falar de transformação no campo da mulher é o negativo, o equilíbrio homem-mulher tem que partir da própria natureza e não da contradição, violência ou injustiça. É um dos piores recursos para buscar a igualdade, pois dá um poder sombrio e superdimensionado ao Estado, tornando-o um Estado velho, dependente e submerso em lutas político-partidárias. Por outro lado, quando vemos isso da sociedade civil, vemos a calma colorida da diversidade.

Convido você a buscar inspiração na vida cotidiana e, se possível, adaptá-la à sua realidade local, familiar e religiosa. Dar naturalidade a um processo polêmico, escabroso e lento é uma das chaves. Vamos nos motivar sem padrões pré-estabelecidos, dessa liberdade que agora leva ao caos mas que também nos levará a um caminho colorido, de nuances, de diferentes modelos de família e não um discurso do que “deveria ser” mas do que “deveria ser”. ser” ser mais produtiva, viver sem violência, com prosperidade econômica baseada na mulher livre que escolhe e se valoriza por si mesma, com diversidade e não igualdade.

Por isso minha maior motivação é estar aqui hoje, num lugar de aprendizado e diálogo, com a democracìa da aceitação de múltiplos posicionamentos sem a ditadura do preconceito. Isso é mudança.

O que precisamos considerar para que o impacto  que geramos seja local ou global?

Ver o contexto global nem sempre ajuda se as contradições e desafios locais não fórem contemplados. Na minha opinião, devemos relaxar no que implica um impacto global e focar no local, tomar o global como referência e modelos a seguir sem copiar já que um mundo sustentável, especialmente no que diz respeito ao equilíbrio entre mulheres e homens, virá da consolidação de projetos locais adaptados às suas necessidades, o que por si só terá um impacto global. contribuindo para a sustentabilidade e, portanto, para um impacto produtivo

Assim, no Brasil estima-se que as mulheres tenham 30% menos oportunidades que os homens (infelizmente sendo um dos piores países da América Latina) o que significa que o país como um todo tem um desempenho econômico inferior. Vou te dar um exemplo.

De acordo com um relatório da ClosinGap*, na Espanha, fechar a lacuna de gênero existente nas profissões digitais contribuiria com 71,7 bilhões de euros para o PIB espanhol em três décadas, o que equivaleria a 6,4% do PIB em 2021.

Eles veem como a inclusão também leva a uma melhor produtividade, uma gestão mais criativa, uma tomada de decisão mais inovadora, uma imagem e reputação locais e especialmente globais muito boas, o que no final significa benefícios diretos que promovem o investimento.

É promissor ver que apesar de tudo no Brasil as diferenças entre homens e mulheres diminuíram em relação ao ano passado.

Em relação ao GAP SALARIAL em média na Europa as mulheres ganham 13% a menos que os homens no Brasil é de 24%, curiosamente não é um problema de acesso a educação e serviços de saúde na verdade é um dos que oferece maior igualdade para homens e mulheres no brasil. É verdade que se compararmos com países como a Suécia onde a diferença é de 4% vemos que estamos muito atrás, porém comparando com um país economicamente próspero como os Estados Unidos vemos surpreendentes 36%. Eles percebem que o impacto local nem sempre significa o global e vice-versa.

À questão do que devemos considerar para que o impacto seja local ou global, eu diria que devemos focar em alinhar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, como referência e estimular a criatividade local. o impacto global virá por si só

Quais sao as acoes mais relevantes neste momento?

Podemos identificar como ações mais relevantes a geração de emprego feminino, e a redução da defasagem salarial, a conciliação trabalho-família, a presença em Conselhos de Administração e por fim, e como objetivo principal, a elaboração – e imposição por lei – um plano de igualdade.

A transversalidade que a igualdade de género implica funde-se com o “ferro” daquilo que é a empresa com uma filosofia profundamente enraizada e orientada para a obtenção de benefícios sem ter em conta as necessidades específicas das mulheres. É nesta evolução da empresa que vemos que a cultura organizacional desempenha um papel fundamental para aliviar a pesada carga que as tradições representam e para impulsionar com inovação e criatividade para uma nova dimensão no mercado de trabalho.

Um dos grandes desafios é a diferenciação entre igualdade e diversidade, se focarmos apenas na igualdade acabamos no normativo, porém se a diversidade é nossa bandeira nos libertamos de amarras -principalmente partidos políticos- e avançamos mais um roteiro equilibrado onde as cotas fazem parte de um cenário mais amplo: o ambicioso ideal de mudança cultural e, portanto, de gestão.

Não se trata de estabelecer privilégios para as mulheres, mas sim de privilegiar a empresa com a diversidade que a abordagem feminina implica.

Acho interessante mencionar a única empresa na Espanha certificada nacionalmente pela metodologia EDGE -dividendos econômicos para a igualdade de gênero- que é a Zurich Seguros España. Como afirma Santiago Ínsula, seu diretor de Recursos Humanos. sem alarde ou exagero, pois entendemos que faz parte da gestão de pessoas. Não há outro talento senão o diverso”.

E eu acrescentaria que não há ação mais relevante do que trabalhar com as pessoas e mudar suas atitudes de forma lenta, mas segura. 

 Quais sao os caminhos que as empresas e pessoas devem seguir  para fomentar novas iniciativas mundiais?

Adaptar-se às suas realidades locais em vez de copiar outros modelos acho que é uma das chaves, no entanto existe uma tendência mundial para a padronização que leva a um grande problema na minha opinião: que é tentar copiar iniciativas que se adaptam a um contexto local específico sem levando em consideração o momento histórico, as condições econômicas e o impacto social.

NÃO acredito que uma questão como a inserção da mulher possa realmente ser aplicada da forma como é interpretada: que é o Objetivo de Desenvolvimento 5 global e geral sem nenhum tipo de adaptação.

A soberania de gênero é o que eu vejo como um desafio. trata-se de respeitar cada sociedade e sua evolução específica, que envolve principalmente elementos históricos, culturais e sem dúvida a intenção política partidária sempre manipuladora. Sejamos honestos, os partidos buscam aplicar iniciativas globais com critérios partidários locais, enquanto as empresas, por sua vez, buscam tornar as questões de gênero um elemento rentável como sua imagem. Uma empresa considerada sustentável pode sê-lo sem atender a todos os objetivos de desenvolvimento sustentável e somente com políticas de gênero pode alcançar uma classificação alta. embora possamos dizer que é um fato menor, pois em última análise o objetivo final seria cumprido

Acredito que devemos deixar de ser menos que Maquiavel e não deixar que os fins justifiquem os meios. têm de aplicar políticas adaptadas ao seu contexto sectorial e ao seu negócio e cultura local. A ideia de promover iniciativas globais pode se tornar contraproducente e até ineficaz se não for buscada uma estratégia de ação coerente.

Seria muito oportuno que as empresas enveredassem por um primeiro caminho de mudança de mentalidade, baseando suas ações mais na mudança de liderança do que na execução imediata.

O papel dos departamentos de recursos humanos é fundamental para gerar gradual e pacientemente uma nova cultura como forma de introduzir mudanças sem traumas.

A isto devemos acrescentar a formação de pessoal e a construção de uma estratégia aberta e inclusiva que envolva todos os colaboradores em todos os departamentos. trabalhar a partir dos funcionários pode ser mais criativo e eficaz do que aplicar uma estratégia do Conselho de Administração. O novo exige aceitação e isso só é alcançado quando todos estão envolvidos. Caminhando além da responsabilidade social corporativa… sem ideologias de nenhum tipo

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